A teoria das doze camadas da personalidade humana trata-se da tomada de decisão humana, seus porquês, seus pormenores e suas motivações. Criada pelo professor Olavo de Carvalho, o estudo visa, ajudar a compreender o que motiva uma pessoa em cada etapa de seu desenvolvimento como personalidade. A teoria descreve em que etapa da vida nos encontramos, o quão madura está a nossa personalidade, e como que com este reconhecimento, podemos identificar as causas de nossos sofrimentos, nossos erros, acertos, nossos objetivos e missões de vida. Outro benefício é ter capacidade de estabelecer certa previsibilidade em relação aos desafios que estão por vir nas camadas que seguem.
Na teoria, as camadas são entendidas em termos de autoconsciência, e cada nova camada é um novo padrão de autoconsciência. Já a consciência deve ser entendida como um valor, uma possibilidade humana que não se realiza automaticamente; quando se a aceita como um valor e a persegue, busca e deseja, então ela se desenvolve. As camadas correspondem a uma divisão cronológica e abarcam características intrínsecas da personalidade. À medida que as camadas mudam, a motivação da pessoa com sua ação muda igualmente. Em cada uma das camadas, as pessoas absorvem os acontecimentos do mundo de forma diferente, filtrando o que vai ser absorvido por sua psique, e isto mudará sua percepção e como reage aos acontecimentos.
Quanto menos personalidade, mais genérica é a pessoa, com motivações mais genéricas. Quanto mais personalidade, mais singular é a pessoa, muito mais única, com motivações mais específicas. A camada é a síntese da personalidade, dá a finalidade dos atos e dita o objetivo de suas ações. Você pode evoluir as camadas, mas vai sempre vivo os sofrimentos das anteriores
São doze camadas, doze propósitos, doze motivações para viver e agir no mundo. Em cada mudança de camada, notamos um novo padrão de autoconsciência. Essas motivações correspondem a uma escala de evolução cronológica. Segundo o professor Olavo, as doze camadas são: (1) a Astrocaracterologia; (2) Psicologia do destino; (3) Aprendizado; (4) Afeto interior; (5) Autodeterminação do Ego; (6) Conquista de habilidades; (7) Papel social; (8) o Eu diante da Morte; (9) Vida intelectual; (10) Vida Moral; (11) Eu histórico; (12) Eu diante de Deus.
A primeira camada, do caráter, da astrocaracterologia, é uma camada "anterior" à personalidade, que já está dada, pronta, no instante do nascimento, ao passo que a personalidade será a resultante de uma absorção progressiva dos elementos do mundo. A primeira camada da personalidade ainda não é consciente, assim, notamos que algumas pessoas são de um jeito, outras são de outro e que já existe, naturalmente em cada um, uma tendência anterior à consciência. A motivação desta camada é própria do sujeito e anterior a tudo. Nesta primeira camada reconhecemos o fato de cada indivíduo ser absolutamente único.
A segunda camada, é a da psicologia do destino, também compreendida como hereditariedade ou constituição, é uma camada quase que inconsciente. Nesta, notamos a hereditariedade, mas isso não tem a ver com a biologia, genética ou cromossomos.
O psiquiatra húngaro Lipot Szondi fala sobre a Teoria do Inconsciente Familiar, onde trabalha sobre o que motiva as pessoas, entendendo que seus antepassados pedem a repetição de seus sucessos e fracassos. Segundo ele, o ser humano tem tendência a repetir os processos de seus ancestrais. Quando teorizamos sobre o inconsciente familiar, é como se estivéssemos pensando em uma linha geracional que começa com nossos parentes antes de nós, e seu fim óbvio está em nós. Os recém-nascidos sofrem a influência de condições físicas externas prejudiciais e tendências patológicas hereditárias.
A terceira camada, a camada do aprendizado, da cognição e da percepção, é aquela que, pela primeira vez, surge de uma motivação consciente. Trata-se do aprendizado primário, aquele que tem por característica os “porquês”, levantados pelas crianças. Quando as crianças começam a brincar e a descobrir como o mundo funciona, começam as suas relações com a realidade. Esse aprendizado não é limitado pela genética ou pelas condições físicas. Eles não afetam as oportunidades de aprendizagem nem determinam a aceitabilidade. Esta é uma camada que os adultos já perderam
As crianças que já passaram dos dez anos de idade já não regressam ao terceiro nível, porque compreendem como o mundo funciona e já não aprendem por aprender. Somente pessoas com autismo grave e aquelas com retardo mental ou danos em certas áreas do cérebro voltam ou ficam presas na terceira camada da personalidade. O motivo de sofrimento referente à camada três é da ordem do fracasso ou sucesso; é um desajuste entre a criança e ela mesma, entre o que ela pretende e o que de fato consegue fazer. Esse tipo de fracasso não deixa traumas, porque dura pouco tempo e a própria evolução do indivíduo supera isso. É a motivação do aprendizado pelo aprendizado, o aprendizado de como o mundo funciona.
A quarta camada da personalidade é a camada do afeto interior, se alguém chega à vida adulta ainda na quarta camada, ela não sai sozinho; é preciso psicoterapia, segundo o professor Olavo. E o que temos nesta motivação? Temos o aparecimento do mundo emocional, a consciência de um certo sofrimento, de uma certa carência. Isso geralmente acontece na adolescência. Se uma pessoa não receber um determinado tipo de carinho de seus pais ou entes queridos, terá problemas durante a adolescência e a idade adulta. Qual é essa emoção indispensável para superar a quarta camada? Os pais ou entes queridos devem demonstrar afeto: altruísta, firme, livre. O sofrimento de nível quatro ocorre quando a criança descobre se está feliz ou não. Isso só é possível se experiências e decepções repetidas fizerem com que você se sinta amado ou rejeitado. Os eventos aqui representam um ciclo de vida prolongado que leva tempo para se formar. Terminada a infância, tais acontecimentos formam um padrão emocional que marcará o resto da vida.
Os sujeitos da camada quatro não percebem que existe um mundo que gira, independente de seus sentimentos. Eles não conseguem distinguir o mundo real do mundo imaginário, acredita que o mundo gira ao seu redor, acredita ser uma pessoa muito especial e que tem direito a praticamente tudo. Se as necessidades emocionais persistirem ao longo da vida, significa que essa camada não foi resolvida. Até que tais sentimentos sejam sentidos, um buraco no coração permanece aberto.
As pessoas nessa camada buscam a aprovação de seus sentimentos e de seus afetos, e a isto permanecem presas. A motivação desta camada é a do sentimento pelo afeto ou carinho do outro e por isso notamos imaturo vitimismo, no qual tudo o que acontece é levado para o lado sentimental e emocional. A maioria dos brasileiros encontram-se, perigosamente, presos nesta quarta camada.
A quinta camada é a camada da autodeterminação do Ego, autoconsciência e individuação. Ao atingir a fase da adolescência, o sujeito compreende que é autônomo, que deve resolver seus problemas sozinho, que não basta apenas ser amado, que precisa desenvolver seu potencial pessoal e interpessoal. Mesmo que o sujeito fosse amado, isto não resolverá absolutamente nada.
É normal distanciar-se um pouco dos pais nesta etapa, ser briguento e arrogante, ele precisa vencer, pensar que é forte, que consegue. Nada mais é do que um processo de amadurecimento, é a saída do mundo da autorreferência para o mundo real.
Uma pessoa de camada cinco julga tudo em função de si mesma, não reparando em nada que esteja fora ou além dela. Na camada cinco, a fonte de sofrimento é um auto julgamento depreciativo, não no sentido moral, mas da capacidade pessoal; é uma auto decepção.
A camada número seis é a das competências, habilidades e vocações, onde se busca bens objetivos. A prática da humildade fica mais evidente nesta camada, onde o foco deixa de ser o interior do sujeito e passa a ser no objeto, no fim almejado, na vocação do indivíduo.
É evidente que a plena capacidade individual é obtida somente quando o problema da autoavaliação narcisista não está mais em jogo. O que interessa ao sujeito é realizar algo objetivo, e não apenas sentir-se capaz. Nesta camada o indivíduo se esforça para manter ou alterar a organização de sua vida, visando prioritariamente interesses e necessidades pessoais. Na camada seis, a fonte de sofrimento é um prejuízo objetivo, pois havia a pretensão de um resultado que se frustrou; é um dano, não de ordem psicológica mas real.
A camada sete é aquela que corresponde ao papel social da pessoa, aquela que com suas habilidades reais e com resultados objetivos, entrega valor à sociedade. A partir dela, a organização pessoal é feita considerando as expectativas dos outros em sua volta. O objetivo não é mais apenas satisfazer o conforto do indivíduo, mas também melhorar o seu papel perante a sociedade. Quando um sujeito assume um papel social, significa que ele nasceu, obteve tendências hereditárias, passou por um aprendizado individual e possui agora um poder que permite desempenhar um papel social e ser positivamente reconhecido através dele. Assim podemos delinear uma vida.
A camada número oito trata-se do Eu diante da morte. O sofrimento pertinente a esta camada é o sofrimento do sujeito com ele mesmo, típico de um indivíduo vivido que, tendo percorrido todas as camadas anteriores, termina por se perguntar: "o que eu fiz da minha vida?”. O objetivo é encontrar o sentido real da vida diante da morte. O sujeito já está individualizado, definido, sabe que sua personalidade e sua vida compõem um todo distinto, sabe que é autor de seus atos e de todas as escolhas que fez.
A nona camada é a camada da vida intelectual, aquela que consiste devotamente na busca da verdade. Encontrar a resposta para um problema intelectual honesto que se apresente à sua inteligência torna-se mais importante do que a própria personalidade.
O sujeito buscará solucionar seus problemas intelectuais simplesmente pelo bem de sua própria consciência, não visando agradar os outros, mas sim, agradar às necessidades pessoais. Nesta camada, a pessoa desenvolve uma personalidade intelectual que passa a demandar necessidades internas e não sociais, financeiras ou de autoafirmação.
A décima camada da personalidade trata-se da vida moral, onde uma vez conhecida a verdade, vive-se e age-se diante dela. A questão da personalidade moral surge apenas a partir do momento em que o sujeito possui personalidade intelectual. Não fosse isso, não haveria como julgarmos nossas próprias ações. A décima camada da personalidade é entendida como o indivíduo que se vê como representante da espécie humana, como autoconsciente e responsável por todos os seus atos. A camada representa o cumprimento de papéis definidos dentro da hierarquia da humanidade e significa estar constantemente consciente intelectualmente da universalidade de todas as ações. Os atos humanos têm então um significado universal, mesmo que não atuem em âmbito universal. A décima camada da personalidade é aquela em que o sujeito vê a si mesmo como representante da espécie humana, como autoconsciente e responsável por todos os seus atos. Tal camada refere-se ao cumprimento de papéis definidos dentro da hierarquia da humanidade.
A penúltima camada se refere ao Eu histórico, aquela que representa a ação individual no conjunto da história, onde o indivíduo presta satisfação de seus atos perante o tribunal da História. Sua personalidade marca a história. É aqui que o ser humano compreende que as ações verdadeiras e morais não terminam com a nossa morte, nem acabam nesta vida. A motivação da décima primeira camada da personalidade humana se dá na consolidação de uma personalidade duradoura através do tempo, consolidação de uma personalidade que age na história como um todo. A dor da camada se dá em falhar em atos históricos e não alcançar impacto na vida dos outros, não modificar o rumo das sociedades. Seu objetivo é mudar, para melhor, o curso da história com suas ações.
A última camada da personalidade, apresentada pelo professor Olavo de Carvalho, se refere ao destino final, ao encontro do Eu com Deus. É onde o sujeito responde pessoalmente ao Onisciente. O encontro com o sentido da vida ocorre na camada doze. O indivíduo aceita o sofrimento por amor a Deus. É como se soubéssemos o que Deus quer e como se conversássemos com Ele. Só podemos falar de santidade se o relacionamento de uma pessoa com o Deus eterno motivar todas as suas ações. Não apenas ações aleatórias, mas todas. Existem indivíduos que já nascem na camada doze, tanto que ao passarem pelas que a antecedem elas vão sendo absorvidas rapidamente. O sofrimento dessa camada se dá por decepcionar a Deus, não correspondê-lo. Sofre-se pela própria humanidade. Seu objetivo é a redenção.
Para o professor Olavo de Carvalho, as doze camadas da personalidade fecham o ciclo de uma vida humana. Elas explicam a vida humana, desde o momento que se manifesta, cresce, evolui, torna-se independente, supera suas necessidades biológicas e afetivas, descobre seu dever perante a sociedade, vê-se, posteriormente, diante da busca pela verdade, diante de uma vida moral, diante da morte, diante do Criador. Ela encontra o sujeito com seu próprio “Eu histórico” e o ajuda a alcança a transcendência diante de Deus.
Tendo lido este artigo, diga-me, caro leitor, em qual camada da personalidade você se encontra? Sabe como evoluir para a próxima camada? De qualquer forma, acredito que muitos do que estão lendo, tem muito trabalho a ser feito, por isso, revise seus atos e busque a próxima camada, pois cada camada exala um princípio de organização da vida, absorvendo elementos da camada anterior e dá-lhe uma nova roupagem e direção. A pergunta decisiva é: onde dói? Dói na camada onde se está.